VOCÊ SABE O QUE É RESPEITO?
por Fabrizio Lyra
Vou contar duas histórias que
ilustram o tema que quero tratar. Certa vez, trabalhei em uma
secretaria de estado que teve seu comando transmitido a uma coalizão
de partidos de esquerda e extrema esquerda. Não direi quais assim
como não informarei a área de atuação da secretaria e os nomes
dos personagens de minha história. Isso não tem relevância para o
conteúdo dela. Um dia, meu setor fez uma reunião com um dos
vice-secretários. Era um senhor muito amável com aparência
daqueles vovôs contadores de estórias que colocam os netinhos no
colo e todos nós gostamos. No entanto, sabia que era um socialista,
ex-exilado e anistiado político. Em suma: foi um combatente
revolucionário contra o regime militar. Ele foi um dos primeiros a
chegar e se sentar. Quando os outros chegaram, enquanto se sentavam,
ele falou do alto dos seus mais de 60 anos: “sabem que, até hoje,
não sei o que é respeito.”
A minha segunda história ocorreu
na reunião de escolha dos oradores e agradecimentos para a formatura
de minha segunda graduação. Algumas pessoas consideraram
ultrapassado fazer agradecimentos a Deus. Foi feita uma votação e o
resultado aprovou a inclusão desse agradecimento. Quando a conclusão
de nossas opções para a cerimônia foi enviada por e-mail aos
formandos faltosos, um deles respondeu com um e-mail irritando
dizendo ser absurdo, em pleno século XXI, fazer-se agradecimentos a
Deus em uma universidade. Quando respondi que essa opção foi votada
democraticamente, ele não aceitou o resultado, tentou impor sua
verdade e como não conseguiu, disse que não iria comparecer a
cerimônia. No fim de sua mensagem, afirmou ser um anarquista “sem
Deus e sem pátria”.
A primeira história ocorreu antes do
PT chegar ao poder e a segunda aconteceu um ano depois.
Elas expõem não apenas casos
isolados mas visões de um idoso que, por sua ideologia, vivia
deslocado, na sua juventude, por viver em uma nação conservadora e
a de um jovem, do início do século XXI, sentindo-se
desconfortável por sua visão revolucionária ainda não ser
predominante na sociedade.
Dez anos depois, será que essas
posturas fortaleceram-se e disseminaram-se em nossa sociedade?
O que encontramos, hoje, é o
resultado de um lento, sutil mas forte crescimento de uma mentalidade
relativizadora de conceitos morais que não vê sentido na reverência
a símbolos, figuras, crenças, instituições e gestos de nossas
tradições como Igreja, Deus, pai, mãe, família heterossexual,
hierarquia, formalidade, pátria, nação, bandeira, hinos e qualquer
elemento que coloque a pessoa em atitude de seriedade, postura
corporal rígida, corpo curvado, cabeça baixa e profundo silêncio.
O coração batendo calmo. Rosto sereno e concentrado. Alma
elevando-se e parecendo sair do corpo.
Cada vez mais impera o deboche,
escárnio e cinismo revolucionários oriundos da orgia comportamental
e mental dos anos 60 que abriram a represa dos instintos, emoções e
pulsões mais violentas que estavam lacradas no subsolo da alma
humana para serem disseminadas por toda sociedade mundial. Em alguns
outros períodos da humanidade essa represa foi aberta para ser
novamente fechada por forças conservadoras. Há 50 anos, essas
forças vem tentando novamente fechar essa caixa de Pandora mas sem
sucesso. Ela vem vencendo mas ainda não deu a palavra final. No
Brasil, durante 20 anos, o regime militar atrasou a missão que ela
empreendeu com maior sucesso no resto do mundo. Porém, a Nova
República e o fim do regime militar brasileiro, em 1985, foram
abrindo-lhe aos poucos. O PT, ao assumir o poder em 2003 tratou de
escancará-la mas vem se surpreendendo com a reação dos que
conservam valores tradicionais. E o número dessas pessoas é maior
do que os petistas poderiam imaginar. Quem irá vencer? O Brasil
passará, também, como o velho revolucionário narrado no início
desse texto, a não saber mais o que é RESPEITO?
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