quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

VOCÊ SABE O QUE É RESPEITO?


VOCÊ SABE O QUE É RESPEITO?
por Fabrizio Lyra

Vou contar duas histórias que ilustram o tema que quero tratar. Certa vez, trabalhei em uma secretaria de estado que teve seu comando transmitido a uma coalizão de partidos de esquerda e extrema esquerda. Não direi quais assim como não informarei a área de atuação da secretaria e os nomes dos personagens de minha história. Isso não tem relevância para o conteúdo dela. Um dia, meu setor fez uma reunião com um dos vice-secretários. Era um senhor muito amável com aparência daqueles vovôs contadores de estórias que colocam os netinhos no colo e todos nós gostamos. No entanto, sabia que era um socialista, ex-exilado e anistiado político. Em suma: foi um combatente revolucionário contra o regime militar. Ele foi um dos primeiros a chegar e se sentar. Quando os outros chegaram, enquanto se sentavam, ele falou do alto dos seus mais de 60 anos: “sabem que, até hoje, não sei o que é respeito.”

A minha segunda história ocorreu na reunião de escolha dos oradores e agradecimentos para a formatura de minha segunda graduação. Algumas pessoas consideraram ultrapassado fazer agradecimentos a Deus. Foi feita uma votação e o resultado aprovou a inclusão desse agradecimento. Quando a conclusão de nossas opções para a cerimônia foi enviada por e-mail aos formandos faltosos, um deles respondeu com um e-mail irritando dizendo ser absurdo, em pleno século XXI, fazer-se agradecimentos a Deus em uma universidade. Quando respondi que essa opção foi votada democraticamente, ele não aceitou o resultado, tentou impor sua verdade e como não conseguiu, disse que não iria comparecer a cerimônia. No fim de sua mensagem, afirmou ser um anarquista “sem Deus e sem pátria”.

A primeira história ocorreu antes do PT chegar ao poder e a segunda aconteceu um ano depois.

Elas expõem não apenas casos isolados mas visões de um idoso que, por sua ideologia, vivia deslocado, na sua juventude, por viver em uma nação conservadora e a de um jovem, do início do século XXI, sentindo-se desconfortável por sua visão revolucionária ainda não ser predominante na sociedade.

Dez anos depois, será que essas posturas fortaleceram-se e disseminaram-se em nossa sociedade?

O que encontramos, hoje, é o resultado de um lento, sutil mas forte crescimento de uma mentalidade relativizadora de conceitos morais que não vê sentido na reverência a símbolos, figuras, crenças, instituições e gestos de nossas tradições como Igreja, Deus, pai, mãe, família heterossexual, hierarquia, formalidade, pátria, nação, bandeira, hinos e qualquer elemento que coloque a pessoa em atitude de seriedade, postura corporal rígida, corpo curvado, cabeça baixa e profundo silêncio. O coração batendo calmo. Rosto sereno e concentrado. Alma elevando-se e parecendo sair do corpo.

Cada vez mais impera o deboche, escárnio e cinismo revolucionários oriundos da orgia comportamental e mental dos anos 60 que abriram a represa dos instintos, emoções e pulsões mais violentas que estavam lacradas no subsolo da alma humana para serem disseminadas por toda sociedade mundial. Em alguns outros períodos da humanidade essa represa foi aberta para ser novamente fechada por forças conservadoras. Há 50 anos, essas forças vem tentando novamente fechar essa caixa de Pandora mas sem sucesso. Ela vem vencendo mas ainda não deu a palavra final. No Brasil, durante 20 anos, o regime militar atrasou a missão que ela empreendeu com maior sucesso no resto do mundo. Porém, a Nova República e o fim do regime militar brasileiro, em 1985, foram abrindo-lhe aos poucos. O PT, ao assumir o poder em 2003 tratou de escancará-la mas vem se surpreendendo com a reação dos que conservam valores tradicionais. E o número dessas pessoas é maior do que os petistas poderiam imaginar. Quem irá vencer? O Brasil passará, também, como o velho revolucionário narrado no início desse texto, a não saber mais o que é RESPEITO?

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